O objetivo desse estudo foi compreender quais temas culturais fazem parte das práticas político-pedagógicas dos professores e das professoras de Educação Física Escolar que resistem aos ditames das políticas públicas educativas neoliberais, a partir das experiências publicadas por eles e elas na literatura. Foram analisados os relatos de experiência publicados entre os anos 2009 e 2019, em 12 periódicos científicos indexados no qualis da Educação Física ou da Educação, que possuem no seu escopo a intencionalidade de publicar sobre a estruturação do trabalho pedagógico docente, além de 25 livros que apresentam capítulos relacionados com o cotidiano do componente curricular. A interpretação dos dados foi realizada por meio da análise cultural. O levantamento dos materiais publicados permitiu selecionar 245 relatos de experiência escritos por docentes de Educação Física que lecionam no cotidiano escolar. A grande maioria desses projetos educativos ocorreu em escolas públicas (226 relatos). O Ensino Fundamental foi o ciclo de escolarização em que mais experiências pedagógicas foram publicadas, somando 172 relatos de prática. Logo em seguida, aparece o Ensino Médio com 47 projetos educativos, a Educação Infantil com 22 narrativas. A Educação de Jovens e Adultos, embora seja considerada uma modalidade de ensino, também foi analisada, com 14 experiências. As nossas análises mostraram que o conjunto das experiências educativas são fruto da interpretação, negociação, tradução e produção da prática político-pedagógica de educadores e educadoras de Educação Física que organizam as suas ações didáticas a partir de seis temas culturais, sendo eles: a organização de projetos e trabalhos interdisciplinares de acordo com o projeto político-pedagógico da escola; o planejamento das atividades de ensino de forma participativa, onde os alunos e as alunas também são engajados no processo educativo; a análise das desigualdades socioeconômicas que perpassam as práticas corporais, com intencionalidade de buscar a justiça social; a promoção de uma educação antirracista, desenvolvendo temas nas aulas que envolvem a história e a cultura das manifestações da cultura corporal de matriz africana e indígena, além da valorização da cultura negra nas práticas corporais; o combate contra a discriminação de gênero, problematizando com os/as estudantes o preconceito contra as mulheres e a população LGBTQI+ nas danças, lutas, ginásticas, esportes, jogos e brincadeiras; além da estruturação de debates fundamentados pelas relações entre corpo, saúde e práticas corporais que superam os determinantes biológicos.

Palavras-chave: Educação Física escolar – Experiências político-pedagógicas – Ecologia de saberes

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