Na sociedade moderna, os sujeitos vêm sendo indicados, classificados, ordenados, hierarquizados e definidos pela aparência de seus corpos a partir dos padrões e
referências, das normas, valores e ideais da cultura dominante: branca, burguesa, cristã, masculina e heterossexual. A cor da pele, o formato dos olhos, do nariz ou da boca, a presença da vagina e dos seios são, sempre, significados culturalmente e é assim que se tornam (ou são) marcas de raça, gênero, etnia, classe social e nacionalidade. Podem valer mais ou menos, ser decisivos para dizer o lugar social de um sujeito ou ser irrelevantes, sem qualquer validade para o sistema classificatório de certo grupo social. Os sujeitos que resistem ou escapam são considerados impróprios, abjetos, por não se enquadrar nas normas produzidas e estabelecidas no campo do simbólico, portanto, passíveis de violência “corretiva”. Nos últimos anos, professoras/es colocam em ação o currículo cultural de Educação Física, inspirando-se nos pressupostos das teorias pós-críticas, tencionando a formação de sujeitos sensíveis à produção da diferença como condição de existência e comprometidas/os com relações democráticas. Esse compromisso é percebido nas experiências submetidas a discussões, reflexões e análises durante as reuniões do Grupo de Pesquisas em Educação Física escolar da FEUSP. Uma das preocupações desse coletivo é o ensino sintonizado com a sociedade contemporânea e a função que a escola adquiriu nos últimos tempos. Na tentativa de ampliar o leque de possibilidades teórico-metodológicas a partir do pensamento de Judith Butler e da Teoria Queer, a presente pesquisa tem como objetivo investigar como o currículo cultural de Educação Física contribui para o tensionamento das heteronormatividades e normatização de corpos. Será realizada uma bricolagem de métodos, ou melhor, uma queerização metodológica a partir de experiências pedagógicas imersas no cenário pandêmico durante o ensino híbrido emergencial em 2021. Os dados produzidos serão confrontados com a epistemologia do currículo cultural de Educação Física em diálogo com arcabouço teórico queer, a filosofia butleriana e as afetações pandêmicas.

Palavras-chave: Educação Física Cultural. Teoria Queer. Corpo abjeto. Pandemia.

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