A presente pesquisa teve como objetivo compreender como as/os estudantes significam as práticas corporais de matriz afro-brasileira, quando tematizadas nas aulas de Educação Física, culturalmente orientadas, partindo-se do pressuposto de que tal teoria curricular se apresenta como alternativa contra-hegemônica, pois afirma as diferenças e se compromete com a formação de sujeitos solidários. O trabalho de campo consistiu na tematização de danças de matrizes culturais afro-brasileiras junto a duas turmas do Ensino Fundamental II de uma escola pública paulista. As experiências foram documentadas em caderno de registros, fotos, vídeos, áudios e diário de campo. Todo esse material empírico foi submetido à análise cultural. A partir das análises, podemos afirmar que o currículo cultural produz efeitos nas significações acerca das práticas corporais, confirmando estudos anteriores sobre o tema – no contexto desta pesquisa, inicialmente, emergiram significações de recusa pelo não reconhecimento de algumas danças de matriz afro-brasileira, bem como pelo desconhecimento dos motivos de sua ausência nas aulas de Educação Física dos anos anteriores. Num segundo momento, a indignação, causada pelos conhecimentos acessados no decorrer da ampliação e aprofundamento, como também na problematização dos marcadores sociais, a saber, classe, gênero e raça, ocasionou que as turmas produzissem as danças estudadas com o engajamento de todas/os, apropriando-se da linguagem metafórica da prática corporal. Observou-se que o processo de significação efetivou-se ao longo da tematização, fazendo emergir encruzilhadas, mobilizadas no entrecruzamento dos pressupostos do currículo cultural de Educação Física, dos saberes dos estudos decoloniais e do pensamento de fronteira, materializado na rejeição de uma maneira única de ler a realidade, uma vez que, ao acessarem os diferentes conhecimentos das danças, além de questionarem sua ocorrência social, produziram outras possibilidades de dançar, veiculando os saberes discentes, a desobediência epistêmica, a recusa do cânone acadêmico, sistematizado pelos sujeitos universais eurocentrados. Isso tudo foi anunciado por uma perspectiva pluriversal, visto que se constatou, no reforço da performatividade das danças e nos diálogos estabelecidos entre as/os estudantes, a produção de conhecimentos; por fim, da Pedagogia das Encruzilhadas, anunciada em seus cruzos, rolês e ebós epistemológicos, houve a potencialização de uma epistemologia exuística, mobilizada a partir das africanidades, constatada na ressignificação da gestualidade, a partir dos diálogos estabelecidos nas vivências organizadas pelos representantes das danças, o que se evidenciou nas frestas ocupadas pelos saberes das/os estudantes.

Palavras-chave: Educação Física; Africanidades; Currículo cultural; Decolonialidades; Exu; Pedagogia das encruzilhadas.

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