Este estudo foi desenvolvido junto à disciplina Corpo, cultura e subjetividade do Programa de Pós-graduação em Educação da FEUSP. Trata-se de reflexões iniciais acerca de discussões em torno das compreensões sobre o corpo humano e sua relação com a constituição da subjetividade dos sujeitos, através de práticas educativas no âmbito da Educação Física escolar. O objetivo é, a partir dessas discussões que nos apontam para uma perspectiva do corpo relacional, identificar desafios que se expõem para o ensino dessa disciplina, uma vez que lida especificamente com questões afetas ao corpo e ao movimento num contexto que tem sua função social associada à constituição de subjetividades/identidades: a escola. Iniciei as reflexões com algumas considerações sobre a configuração da Educação Física no contexto escolar, bem como o que caracteriza esse contexto na contemporaneidade. Segui buscando a relação entre corpo e subjetividade, apoiando-me nas discussões de Caminha (2009), ao apontar as contribuições de Merleau-Ponty e Freud na crítica ao corpo concebido apenas como instância biológica, e de Hall (2005), em relação à constituição de identidade dos sujeitos na sociedade global contemporânea. A partir desse estudo, foi possível apontar desafios que se colocam para o ensino da Educação Física na Educação Básica, uma vez que historicamente este se constituiu pautado numa compreensão do corpo enquanto organismo, reduzido à sua dimensão biológica. Nesse sentido, as práticas que visavam, em geral, o aperfeiçoamento desse funcionamento através da repetição estereotipada de movimentos organizados a partir de critérios biomecânicos e fisiológicos, influenciaram a constituição de subjetividades passivas e padronizadas em torno de uma identidade hegemônica. A Educação Física, enquanto componente curricular obrigatório, que lida especificamente com as questões afetas ao corpo e ao movimento, não pode se furtar, ou melhor, furtar dos estudantes o direito de compreender essas questões de maneira mais ampla e complexa, em sua relação com o contexto cultural. Nessa perspectiva é possível viabilizar a esses sujeitos compreenderem a si mesmos na realidade que os constitui enquanto seres humanos que se movimentam no mundo e com os outros. Experiências relatadas por autores com o currículo multicultural da Educação Física tem mostrado efeitos reflexos na formação dos sujeitos envolvidos que respondem a esse desafio, ao valorizar a pluralidade cultural como eixo norteador da constituição identitária a ser influenciada pelo currículo (NEIRA e NUNES, 2009). Sugiro, assim, que o trabalho pedagógico dessa disciplina pode tornar-se mais coerente ao tematizar, criticar, contextualizar, problematizar, apropriar e ressignificar essas questões no âmbito da cultural corporal, abordada numa perspectiva multicultural de caráter crítico.