Ao confrontarmos a configuração da cultura corporal e da Educação Física no contexto escolar brasileiro e sergipano com as necessidades educacionais contemporâneas, em meio à globalização neoliberal e às relações de poder inerentes, percebemos a urgência de reinventarmos nossas práticas de modo que subsidiem uma pedagogia politicamente engajada com a diversidade cultural e a justiça social. Ao propor ações nessa perspectiva, os Estudos Culturais e o multiculturalismo crítico sugerem ações didáticas que proporcionem o diálogo com a diversidade cultural no currículo escolar. Nesse intuito, desde 2011 temos redefinido o currículo da Educação Física no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe na perspectiva cultural. Este estudo apresenta uma análise qualitativa de caráter descritivo acerca da experiência com a implementação desse currículo. O objetivo é evidenciar efeitos da implementação do currículo cultural da Educação Física na constituição identitária dos estudantes a partir da análise das ressignificações decorrentes das interações e práticas vivenciadas. Os dados foram coletados em turmas das séries finais do Ensino Fundamental (EF) e do Ensino Médio (EM). Para as análises, utilizamos questionários abertos e as manifestações dos estudantes durante as aulas no decorrer dos anos letivos de 2011 e 2012, registradas em diário de campo pela própria docente das turmas. O currículo empreendido é caracterizado por ações didáticas que compreendem a tematização das manifestações da cultura corporal, mapeamento, ressignificação, aprofundamento e a ampliação dos conhecimentos. Tem como princípios a consideração da cultura corporal dos sujeitos que compõem as turmas e suas respectivas comunidades, a justiça curricular, a descolonização do currículo e a ancoragem social dos conhecimentos. As expressões dos estudantes acerca dos temas estudados permitem perceber que ocorreram ressignificações acerca das práticas corporais estudadas. Aquelas inicialmente desvalorizadas passaram a ser vistas com respeito. Muitos estudantes passaram a questionar preconceitos relativos a gênero, etnia e orientação sexual que subjazem algumas manifestações da cultura corporal. Como participantes ativos de todo o processo pedagógico, os estudantes passaram a sugerir o estudo de práticas corporais não comuns em sua cultura ou que se apresentam como subjulgadas. Diante disso, têm manifestado uma visão mais ampla da Educação Física escolar, destacando sua relação com a cultura, a contribuição para o desenvolvimento de atitudes de respeito às diferenças e de diálogo com culturas de outros grupos. O que evidencia a influência do currículo cultural na constituição de identidades democráticas.

Palavras-chave: Currículo cultural. Educação Física. Identidades democráticas.

Texto completo