Os anos 1990 assistem uma expansão das IES privadas que cada vez mais atraem grandes contingentes em uma busca legítima por melhores condições de trabalho. Em 1980 as IES privadas brasileiras contavam com 49.451 docentes em seus quadros e as IES públicas com 60.037; em 2004 as IES privadas contabilizaram 185.258 docentes contra 93.800, ou seja, um crescimento superior a 270%. Em 1998 a participação das IES privadas no Brasil beira os 80%. O aumento desenfreado vem precarizando as condições de trabalho docente. Neste contexto, verificamos que os cursos de Licenciatura em Educação Física ligados às IES privadas são responsáveis pela formação da absoluta maioria dos professores do componente. Segundo dados oficiais, na região denominada Grande São Paulo a oferta na rede privada é superior a 5000, enquanto a rede pública oferece apenas 50 vagas. A presente investigação analisou o processo de elaboração de um currículo de formação inicial de professores de uma IES privada situada nessa região, com o objetivo de mapear os diversos olhares sobre sua elaboração, entender as relações de poder estabelecidas durante este processo, bem como as identidades colocadas em jogo – exaltadas, admitidas ou excluídas, a partir dos mecanismos de construção curricular. O estudo também procurou elucidar qual identidade de professor de Educação Física foi mobilizada pelos membros do colegiado responsável pelo processo. Seguindo as recomendações de Kincheloe e Berry (2007), a bricolagem foi adotada como forma de realizar a pesquisa. Os participantes do colegiado do curso foram entrevistados a partir da interpretação do posicionamento inicial do coordenador e o material resultante foi submetido ao entretecimento e ao confronto com a teorização educacional pós-crítica. Com base nos Estudos Culturais, o currículo é considerado como um artefato elaborado em circunstâncias singulares, construído e construtor de discursos, linguagem e processos de subjetivação. Sendo o currículo um campo de lutas, visualizamos o projeto pedagógico final como produto de um debate que objetivou a legitimação das concepções em jogo. Concepções de ser humano, de sociedade, de escola, de professor, de aluno, de docência, de educação e de Educação Física. O estudo realizado possibilitou compreender que a ideia de trabalho coletivo que permeou a construção curricular, ao sofrer um estranhamento durante a pesquisa, mostrou-se frágil e destituída de um caráter democrático, visto que as preocupações personalistas de pequenos grupos fizeram valer sua condição de poder enquanto as perspectivas dos setores fundamentais da sociedade como os professores em atuação na Educação Básica e os próprios estudantes de Educação Física não tiveram suas vozes ouvidas nesta construção.

Palavras-chave: Currículo. Educação Física. Formação de professores

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