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Esse trabalho insere-se no campo do currículo, com foco no currículo cultural da educação física como possibilidade de potencialização da diferença. As discussões e embates sobre o currículo cultural concentram-se nas teorias culturais contemporâneas, em que professores e alunos são agenciados e atravessados por diversos acontecimentos. Segundo Neira e Nunes (2020), o currículo cultural através dos seus princípios ético-políticos e encaminhamentos didático-metodológicos possibilita a experimentação do dissenso para a vivência da diferença. Para isso, na própria diferença estão as múltiplas possibilidades de produzir outros códigos e fazer da aula um espaço de produção cultural. Essa vivência da diferença pode permitir experimentações outras aos corpos, que segundo Neira (2011), podem perceber os hibridismos e mestiçagens, adquirindo uma nova perspectiva sobre si próprios e seu grupo. Apoiado no campo teórico do pós-estruturalismo, essa perspectiva curricular busca envolver os corpos e toda comunidade escolar em uma proposta da pedagogia da diferença, que aqui destacamos. Uma pedagogia na qual o objetivo está na compreensão sobre como certas culturas foram desvalorizadas e outras valorizadas. É não ver a diferença como negação, mas sim, tê-la como afirmativa, como caminhos para viver outros modos de existência e fugir dos processos das amarras impostas para a cultura e seus participantes (NUNES; NEIRA, 2016). Entendemos que a diferença no currículo cultural não está na negação, não se faz na dialética, isto é, não se define o ser por aquilo que ele não é, menos ainda na relativização colocada pelo neoliberalismo e pelo conservadorismo que operam por exclusão. No currículo cultural a diferença é afirmada nas vivências que são atravessadas pelas relações de poder inseridas nas práticas da cultura corporal. É nesse processo que percebemos que a diferença é afirmada como condição de vida. Dessa forma, esse trabalho objetiva pensar uma educação física cultural que possibilita a cada sujeito viver a possibilidade de experimentar um processo de eterno refazer-se.