Tendo em vista as recentes demandas para a educação escolar por ocasião da
pandemia de COVID-19, doença causada pelo vírus Sars-Cov-2 (o novo coronavírus), que
provocou inúmeras modificações no cotidiano escolar com o advento do ensino emergencial
em seus formatos remoto (ERE) e híbrido (EHE), buscamos identificar os limites e
possibilidades do trabalho educacional durante a pandemia realizado por professores que
afirmam colocar em ação o currículo cultural da Educação Física em escolas de São Paulo.
Os procedimentos metodológicos da pesquisa consistiram no mapeamento e análise de vídeos
e relatos de experiências produzidos durante o período de isolamento social e na etnografia
do ensino híbrido realizada junto a uma professora de Educação Física que se afirma
culturalmente orientada. Buscando construir novos sentidos e questionamentos sobre o
objeto, recorreu-se à netnografia das videoaulas produzidas durante o ERE e o EHE; a
etnografia pós-crítica em uma escola municipal de São Paulo; análise dos registros docentes
publicados durante o triênio pandêmico; e entrevistas narrativas com professoras/es que se
dizem alinhados à proposta. As análises indicam que, apesar das restrições impostas pela
pandemia, as/os professoras/es que afirmam colocar o currículo cultural de Educação Física
em ação foram agenciadas/os pelos seus princípios ético-políticos e promoveram as cenas
didáticas preconizadas por essa concepção de ensino. Os dados também evidenciam a
apropriação de ferramentas virtuais, tanto nos ERE e EHE quanto no retorno às aulas
presenciais. Para além da flexibilidade necessária para que se pudesse cumprir os protocolos
de segurança sanitária, o currículo cultural em sua característica fluida e artistada se mostrou
potente no sentido de encontrar alternativas para a manutenção do contato pedagógico
escola-estudantes. As visitas às escolas quando do retorno às aulas 100% presenciais, nos
fizeram inferir que não tardou para que a rotina escolar voltasse à normalidade, ainda que o
uso das tecnologias tenha ganhado espaço e validação como ferramenta pedagógica
importante no cotidiano escolar.

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