É central na atual sociedade a discussão acerca das relações sociais que determinam a desigualdade social e a legitimação de certos modos de ser, pensar e agir. Essas relações são decorrentes de jogos de poder produzidos por práticas discursivas e não discursivas que fomentam regimes de verdade dominantes. Inserida nesse contexto, a escola apresenta condições para a produção da crítica e de ações contra-hegemônicas, que empoderem seus sujeitos para atuar em meio às lutas por justiça e reconhecimento, além de produzir práticas transformadoras. Neste quadro encontra-se a Educação Física. Componente curricular que em sua trajetória histórica pautada pela racionalidade técnica instrumental, valoriza o mérito, a eficiência e constitui corpos ajustados a lógica produtiva, marcando identidades e diferenças. Esta pesquisa apresenta a possibilidade da construção de um currículo de Educação Física que considere a ambiguidade destes posicionamentos. Por meio de revisão de literatura, propõe a aproximação dos aspectos estéticos expressivos que a dança produz com as questões que caracterizam os conflitos da sociedade multicultural em que vivemos. Esta investigação/proposição ancora-se na perspectiva dos Estudos Culturais e traz as contribuições de Hall, Louro, Ecosteguy e Costa acerca das questões culturais que regulam as identidades e as diferenças. A discussão a respeito da teorização curricular fundamenta-se nos estudos de Silva. No campo da Educação Física, Neira e Nunes ajudam a artistar outros movimentos para a inter-relação dança, cultura, currículo e escola. Afirma que a dança é uma prática de significação da cultura corporal que produz e carrega signos que podem ser lidos e escritos, possibilitando aos seus sujeitos outras formas de ver e dizer o mundo. As significações estão imersas em relações de poder que constituem identidades e diferenças. Possibilitar ao aluno aguçar o olhar para esse texto cultural permite-lhe estabelecer relações múltiplas das paisagens que constrói e o constitui, desconstruindo algumas das relações de poder em que estão imersos. Como texto cultural, a dança relaciona-se às noções de linguagem, identidade, diferença e jogos de poder e permite pensar em possibilidades para um currículo da educação física que contemple a crítica e a ação diante das formas de regulação das práticas da cultura corporal e da validação de certos discursos. O texto anseia uma prática pedagógica que reconheça a diferença, e uma sociedade mais justa, democrática, igualitária e transformadora.

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