Este estudo pretende contribuir para a edificação de uma perspectiva educacional sobre um âmbito da educação informal ainda inexplorado: o cuidado de crianças realizado a domicílio por babás. Com base no referencial epistemológico e metodológico da pesquisa (auto)biográfica, constrói-se a partir da documentação de narrativas de vida de mulheres brasileiras que trabalham como babás na França e de sua interpretação a partir de uma perspectiva hermenêutica. Investiga, assim, os caminhos pelos quais essas mulheres, sujeitos de deslocamentos geográficos, linguísticos e culturais, constroem sua função educativa. Nesse sentido, a pesquisa toma o corpo como analisador das múltiplas aprendizagens envolvidas no cuidado doméstico infantil – tanto aquelas vivenciadas pela tríade babá-criança-família no cotidiano do cuidado, como aquelas que constituem a formação da babá ao longo da vida. No que se refere ao dia-a-dia do cuidado doméstico, observa-se que a função educativa dessas trabalhadoras domésticas é eclipsada pelo paradigma que, ainda dominante no âmbito das domesticidades, dissocia cuidar e educar com base numa concepção de corpo como mecanismo separado da pessoa. Alternativa a essa visão reificante, a noção de corpo sensível – fundamentada na fenomenologia e na antropologia do corpo – permite compreender o cuidado infantil como laço educativo. Constata-se que o cuidado, visto como encontro entre corpos
sensíveis, é permeado pela transmissão de marcas simbólicas. O trabalho interpretativo das narrativas de babás identifica tais aprendizagens em seis âmbitos: corpo em contexto, a babá objeto; corpo em contexto, a babá-pessoa; corpo de necessidades; corpo afetivo; corpo expressivo e corpo cognoscente. No que se refere à formação dessas educadoras domésticas, as interpretações tecidas a partir das noções de bildung e de aprendizagem biográfica lançam
luz sobre a gênese biográfica dos saberes colocados em ação em seu trabalho. Fica claro que, nas etnopaisagens do cuidado infantil doméstico, a babá ocupa um espaço intermediário entre, de um lado, as marcas oriundas de seus próprios percursos vividos e, de outro, as culturas (nacionais, familiares etc.) dos locais em que trabalha, podendo ser propiciadora de uma abertura educativa. Por fim, ao investigar a formação da babá, o presente estudo se desenha
como pesquisa-formação. Com um convite a entrelaçar os fios da temporalidade e da espacialidade biográficas, a atribuir sentidos à existência e a fortalecer o próprio poder de agir, a pesquisa empreendida sublinha a centralidade das operações de biografização por meio das quais as narrativas de vida de babás se configuram como espaços de transcriação da experiência. Contrariamente à naturalização e ao tecnicismo predominantes nas abordagens
contemporâneas sobre o tema, a narrativa biográfica inaugura, portanto, um espaço formativo privilegiado voltado a essas educadoras informais.

Palavras-chave: Educação informal; Cuidado; Corpo; Pesquisa (auto)biográfica; Formação
de babás.

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