A pesquisa buscou investigar as potencialidades do que se convencionou chamar de
currículo cultural da Educação Física. Baseando-se no estudo da vida-trabalho de um professor, procurou produzir um memorando das linhas de força e das relações de poder que se engendram nas experiências curriculares pautadas na vertente de ensino. Enquanto intervenção, ela se dá a partir de um engajamento teórico-pragmático com vistas a uma concepção educacional mais vibrátil, aberta e potente. Tomou como referencial empírico 10 (dez) experiências pedagógicas em 3 (três) anos de docência em uma Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) de São Paulo. Os enunciados pedagógicos do currículo cultural entram na qualidade de testagem, numa condição de esgarçamento e sob constante suspeita, dado que o currículo cultural não é um pressuposto, algo bem definido por uma teorização pronta e homogênea. Dúvidas, incertezas, dores, desconfianças e aflições foram alguns componentes da “massa da obra” do labor pedagógico empreendido. Intentou-se, a partir dos relatos, valorizar os modos de vida que lá se produzem, atribuindo prestígio e legitimidade ao trabalho pedagógico e aos conhecimentos educacionais elaborados. Como alvo, tivemos a produção das subjetividades, compreendidas então por processos em que as pessoas assumem determinadas posições, características, adotam formas de pensamento e ação, a partir dos inúmeros contextos, social, cultural, político e econômico, aos quais estão sujeitas. Nessa perspectiva, produzimos um cursum metodológico absolutamente original, inspirado na cartografia, na esquizoanálise e na pesquisa-intervenção. De perfil absolutamente qualitativo e inspirado nos conceitos de acontecimento e experimentação, alinhamo-nos à(s) filosofia(s) da diferença. Trata-se de uma perspectiva filosófica de forte oposição à ideia de totalidade e universalidade. A filosofia da diferença se interessa pela singularidade, multiplicidade, imanência e pelo devir, não pelas semelhanças, representações e identidades entre as coisas. A partir das esquizo-experimentações, produzimos vinte e uma (21) virtualidades relacionadas com: a) as práticas de governamento e controle; b) os conhecimentos veiculados; e c) os sujeitos almejados. Os dados apontam que as experiências com a perspectiva cultural da Educação Física não eliminam práticas de governamento, regulação e controle, no máximo, tentam criar outras estratégias, potencialmente, menos autoritárias, burocráticas e coercitivas. As experiências também promoveram a veiculação de
um tipo de conhecimento resultante da tematização e problematização absolutamente distinto da transmissão de um pensamento representacional. Por fim, as experiências pedagógicas inclinam-se para um projeto educacional que radicaliza a subjetivação a ponto de direcionar-se para um grande telos que é a produção de subjetividades não-fascistas. Em suma, as virtualidades indicam que as experiências curriculares com a teorização cultural de Educação Física diretamente relacionadas com o conceito de diferença (em sua concepção mais ampla), de acontecimento, multiplicidade e dos processos de singularização, agem como dispositivos sabots, ao empreenderem pequenas sabotagens na maquinaria escolar produtora das subjetividades dominantes relacionadas com a axiomática capitalística.

Palavras-chave: Educação Física. Currículo. Filosofia da Diferença. Subjetividade

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